Quando era adolescente, sendo assim, não muito tempo atrás obviamente, sempre que havia um embate de idéias com meus genitores, a primeira solução vindoura a mente é "não vejo a hora de crescer e ir morar só" por seja quais motivos fossem. E eis que meu momento chegou, o de realizar o sonho de um imaturo moleque, porém algo saiu diferente do planejado. Deu-se início ao maior UFC de todos.
E vem o primeiro desafio, sobrepujar os costumes e comodidades de uma vida toda, e escolher ter a responsabilidade de arcar com uma residência sozinho, o que já é bem dificultoso devido ao fato de mal cuidar de meu próprio "tamagochi" na infância (nomeado por mim mesmo de Duncan Mcloud - Highlander para os mais novos). Sendo assim, a primeira porrada é, consigo mesmo.
Quem dera as batalha fosse apenas esta, depois vem os pais, pois sim, aos olhos dos deles, muitas das vezes parece que nunca deixaremos de ser aquele filhinho bobo e ingênuo e acabamos sendo um tanto subjulgados por eles, nada pejorativo, apenas uma das cegueiras que o incondicional amor traz como efeito colateral, mas enfim. Não vou mentir, doeu, no dia de fazer as malas e sair, o dia todo tocava na minha mente a música do seriado Chaves, aquela bem triste, de quando todos vão a acapulco (ou guarujá) e fica apenas o tadinho do chaves na vila (pra mim esta é a música mais triste de todo universo). Saudade passa a ser uma palavra um pouco mais recorrente acreditem, aqueles que ainda não viveram isto talvez vivam.
Ok, mas olha que legal, estou fora de casa, ham ram! Independente, senhor do meu espaço e tempo, ledo engano, aí vem a próxima, montar a casa. Missão terrivelmente trabalhosa, nunca achei que pequenos acabamentos, comprar móveis, utensílios e tudo mais, fosse dar o nó que deu na minha massa cinzenta virginal. Existe todo um cuidado na aquisição de tudo, contudo isso depende muito mais da organização e do bom senso do solitário morador, como sou chato e um tanto metódico, quem se ferrou foi eu mais uma vez. Que trabalho que tive! Todavia, valeu muito a pena.
Depois de todas essas missões dadas e cumpridas, só restava ocupar o batalhado recanto e curtir tudo, mais uma vez, nada é tão fácil assim, o dia-a-dia te mostra que as primeiras fases eram apenas um prelúdio do ainda viria, morar só não é fácil, fazer sua própria comida, colocar roupa pra lavar, manter tudo organizado e limpo, receber bem as visitas, não esquecer de pagar as contas. Mas posso dizer com toda certeza, é extremamente gratificante, nos faz sentir mais vivos, autônomos, é como semana passada não saber andar de bicicleta e semana que vem já estar saltando de bike em mega-rampa, faz bem danado ao ego.
Na verdade, e acredito ser esta a maior lição de todas, poder virar para os meus pais e dizer muito obrigado por terem me criado, hoje sei das dificuldades, e entendo ainda mais as que eles tiveram em suas épocas ruins.
Minha saída na verdade, e paradoxalmente, tem me aproximado e me feito ainda mais amigo deles, impulsionando a ajudá-los sempre mais. Estranho, mas o que de fato aconteceu não foi a mudança física, e sim a mudança interna, a ida para uma outra casa me levou ao lar dos corações deles de onde nunca saí, apenas não me tocava que já morava lá.
Autor: Luiz Alex Fotos: web

